Wednesday, July 24, 2013

A Psicose do Adultério

© Alvaro M. Rocha - Todos os direitos reservados


Adultérius Terribilus


Não está directamente relacionado com o que vou abordar neste artigo mas está cientificamente comprovado que:

a) O ser humano, tanto macho como fêmea, é intrinsecamente polígamo e bissexual
b) A natureza incentiva a promiscuidade
c) As mulheres com filhos de pais diferentes são mais saudáveis
d) O estatuto Alfa é cobiçado e respeitado. É conotado com segurança e propagação e implica uma tribo (meio social).

Tudo acima incentiva uma busca constante por poder. Poder inquestionável.
Tendo deixado isto claro, vou colocar o foco na questão do "adultério" que nada tem a ver, em termos esotéricos e místicos, com quecas fora do baralho (e daí esta introdução).

Adultério

É associado ao acto de infidelidade num casal.
Grande parte da neurose relacionada com a traição é herdada culturalmente. Muita da conotação negativa está associada à interpretação discutivelmente errada e literal de textos sagrados.

Na Bíblia, e noutros que tais, nada é o que parece.
Todo o texto é uma alegoria e interpretada correctamente por poucos. Além de Iniciados ou Adeptos (algo que muitos padres infelizmente não são) são poucos os que o entendem realmente. Como já abordei amplamente noutros artigos mas é importante para contextualizar este, quando num texto sagrado se lê a expressão "Homem" ou "Masculino", deve ler-se "Vontade" ou "Consciente". E quando se lê "Mulher" ou "Feminino", deve ler-se "Mente Inconsciente". E que é um processo interactivo que envolve recursos (dores, tribulações).

E postulamos anteriormente que quando a Vontade (Homem) insemina o Inconsciente (Mulher) tal gera inequivocamente (concepção/gravidez) um resultado que se manifesta na realidade (Filho/Criança).

Quando a manifestação é fruto duma Vontade não influenciada, diz-se que o resultado é Primogénito.
Por exemplo, inventar o código de computador é uma primo-génese. Usar depois esse código para inventar outras coisas é o famoso "crescei e multiplicai-vos" que a Bíblia encoraja. Refere-se a ideias, a criação e não a um  incentivo à sobre-população.

A metáfora de "massacrar os primogénitos" descreve essencialmente o fim de uma era/cultura iniciada por uma determinada Vontade em concreto que pode ser rastreada geneologicamente (sendo que esta génese é também ela uma outra metáfora que explica os mecanismos da manifestação mas que não vou abordar neste texto, em concreto).

Todos estes termos acima destinam-se a descrever o micro-cosmo de um humano no caminho de se tornar divino (termo que significa "criador" (criador da realidade com uso de tecnologia mental, vulgo, Magia)).




Quando se aborda esta Trindade (Vontade, Mente, Manifestação) no caso do Novo Testamento (Pai + Filho + Espírito Santo), temos na realidade a mesma analogia mas de uma forma mais refinada: Vontade, Manifestação, Processo de Manifestação (Mente Inconsciente). Tudo se refere ao templo (corpo humano) e a um processo de evolução (Salvação) que provavelmente abordarei mais tarde, também num outro artigo (isto de eu passar algumas coisas para o futuro serve para que não se perca o fio à meada, à medida que os artigos forem sendo escritos).


Então, o que é o Adultério afinal?

Sem mais adiamentos:

Permitir que uma Vontade (Masculino) que não a nossa e externa à nossa permeie, ou melhor, penetre na nossa Mente Inconsciente (Feminino).

Se verificada a condição acima, foi cometido, em termos "mágicos", adultério. Nada tem a ver com sexo, pular a cerca ou mijar fora do penico (permita-se-me ousar a vulgaridade).

É conotado negativamente (o "adultério") também em Magia porque um dos objectivos da evolução é precisamente a expressão livre do nosso autêntico ser, algo impossível quando acatamos sugestões externas que vão contra a nossa vontade. E é algo que acontece todos os dias cada vez que vemos uma capa de revista com a beldade do século ou o super-carro do ano e "aceitamos" que somos insuficientes ou quando o que acreditamos ser o nosso estrato social obriga a um olhar pejorativo sobre o que achamos serem classes inferiores, ou superiores. O processo está nos píncaros em qualquer contexto de hierarquias, especialmente se fundamentalista (cooperativa, empresarial, clubística, religiosa, militar, etc.). Está a ser cometido "adultério". E como resultado, somos constantemente apedrejados e sofremos.


Porquê o apredejamento?


A condenação à morte por apredejamento (vulgo lapidação) é uma metáfora do resultado mágico inerente a um "adultério" (intrusão de uma vontade externa). Quando há algo que foi manifestado na realidade pelo nosso próprio Inconsciente mas que não foi fruto da nossa Vontade, resulta daí um vazio imenso que degenera num sofrimento existencial inexplicável. O chamado "vender a alma ao Diabo". A sensação de ser esmagado pelas circunstâncias (as tais pedras que se nos atiram) enquanto o verdadeiro Ser não for expresso é o preço a pagar por não exprimir a nossa Verdadeira Essência.

E sendo que, assim que algo "entra" na Mente Inconsciente (ver em artigos anteriores o processo) a manifestação é um resultado inevitável e irrevogável (palavra muito na moda à data de escrita deste artigo), o "apedrejamento" é também ele inevitável. Daí o "adultério" ser algo a evitar por implicar uma "condenação".

Aliás, quando se lê nos mesmos textos sagrados "o que Deus uniu nos Céus, nenhum homem pode separar", está precisamente a vincar-se que, o que a Vontade inserir na Mente Inconsciente, será inequivocamente manifestado e nada há que se possa fazer para o impedir (os Céus referem-se ao reino da Mente, ou à cabeça (cérebro)).



Então e as mulheres cobertas?


O Corão (outra colectânia de magníficos textos sagrados) não obriga expressamente as mulheres a cobrirem-se. Nem muito menos por completo. É uma questão de interpretação e escolha.

No entanto, a metáfora é semelhante. De forma a encorajar a "modéstia", o Feminino (Inconsciente) é encorajado a tapar-se (esconder dos leigos o segredo do mecanismo sob pena de servir fins ambiciosos pouco louváveis) à excepção dos olhos, mãos e pés.

E precisamente porque se estão sempre a observar os efeitos da Mente Inconsciente na realidade (olhos porque vê/sabe tudo, mãos porque altera tudo e pés porque desloca-se livremente no espaço e no tempo) os orgãos/membros não cobertos mais não são que a expressão visível da manifestação e por isso impossíveis de esconder.

Tendo em conta que a energia que é utilizada no processo de manifestação - a energia criativa - é um equivalente da energia sexual, é dito que "tapar o Inconsciente" se destina a incentivar a modéstia no uso deste tipo de energia. Mas não se refere a uma modéstia de apetite mas sim modéstia no sentido de criar dificuldade no acesso ao conhecimento sobre a sua (mente inconsciente) mecânica e tecnologia.



Disclaimer

Este texto meu não pretende ser um dogma ou desfazer interpretações literais ou alternativas dos textos.
Mas pode discutir-se (saudavelmente) por exemplo que, se o objectivo do cobrir o corpo feminino se destina a incentivar a modéstia sexual, faz pouco sentido que se exponham os pés, sendo que são uma das zonas mais sensuais do corpo da mulher.

A área do cérebro masculino que reconhece o padrão "pés" está praticamente no mesmo sítio que a área que desperta o desejo sexual, sendo muitas vezes confundidos (é um fetiche extremamente comum, a podolatria). Poucas mulheres existem que não o reconheçam inconscientemente, veja-se a muito comum tara por sapatos.


Porque não cobrir os homens?


A vontade (Masculino) tem que ser algo obscenamente visível à Mente Inconsciente (Feminino). Quanto mais, melhor. Quanto mais claro for o conteúdo da semente (o desejo da Vontade), mais coerente é o processo de manifestação (e logo convém não o encobrir). Algo abordado em artigos anteriores.


Então e a história da mulher que perde um homem e tem que casar com o irmão, até passar pelos sete irmãos, e isso não ser adultério?

A Vontade tem, grosso modo, em termos místicos, sete níveis principais, desde o animalesco mais grosseiro até ao divino espiritual.

De forma simplista, os mais básicos são mais poderosos a tentar domar a nossa essência mas menos eficientes na manifestação, e os mais elevados mais poderosos na manifestação da expressão da nossa essência. Tendemos naturalmente para um equilíbrio e subir ao máximo nível exige muito esforço.

Equilibram-se as forças, na parte física da "realidade" que geralmente percepcionamos, na zona do coração (Amor). E os níveis, do mais inferior para o mais superior são, respectivamente:

1 - animal (comer, dormir)
2 - sexual (reprodução, desejo)
3 - territorial (ambição, posse)
4 - amoroso (ternura, carinho, laços, família, social)
5 - comunicativo (cultura, beleza, arte)
6 - intelectual (criação, conhecimento)
7 - divino (espiritualidade, precognição, sabedoria)

Sendo assim temos que, à medida que uma Vontade vai "morrendo" (depois de satisfeita deixa de ser prioritária), a Mulher (Mente Inconsciente) é sujeita ao nível de Vontade seguinte (irmão do marido, o masculino que simbolizava a Vontade anterior), até chegar ao sétimo ("último") nível. É a metáfora de uma jornada humana de evolução e que também ela encobre ensinamentos.


A Adúltera do Evangelho

É reconhecido que todas as nossas mentes, especialmente na sociedade de hoje em dia, estão sujeitas a Vontades externas e é visível a angústia que tal causa.

Não seria de todo completo este artigo se não mencionasse o episódio em que Jesus evita a morte de uma adúltera proferindo que "aquele que nunca pecou, que atire a primeira pedra". É aparentemente uma lição de perdão mas este episódio está infelizmente pleno de incongruências o que, confesso, me fez hesitar mencioná-lo.

Neste episódio, "perdoar", diga-se, não teria grande efeito uma vez que o Inconsciente quando inicia a manifestação não faz qualquer julgamento (não há nada a "perdoar") e leva-o até final. Dizer "vai e não tornes a pecar" reconhece-o como pecado (que conveniente aos homens) mas Jesus não fazia julgamentos.

Para um místico este capítulo bíblico é confuso e inconsistente. Não é na fase de manifestação, neste caso do "adultério" mágico, que se pode corrigir o que for e as "pedradas" são inescapáveis (no sentido alegórico e enquanto existir a crença que originou o movimento da Vontade).

Pecar significa "errar o alvo, o destino, enganar-se na trajectória" ou seja, biblicamente, é sempre corrigível (perdoar significa corrigir a trajectória) e nunca dita uma condenação eterna. Mas após imiscuida a Vontade no Inconsciente, não há correcção possível - é um mecanismo de execução, não de escolha. O "pecado" (erro) é sempre cometido pela Vontade e da mesma tem que partir a correcção (perdão). O Inconsciente não erra, mas manifesta os "erros" correctamente. A ser cometido "adultério" (o mágico), a "condenação" (manifestação de uma vontade externa) é inevitável.

Aceitar a Vontade externa não é muitas vezes um acto voluntário e é necessário muito treino de auto-conhecimento para perceber a (nossa) verdadeira essência e colocar a Vontade ao serviço da nossa mais pura expressão. Leia-se que não é pecado no sentido de ser uma coisa feia mas porque foi fruto de um erro. E apenas porque os efeitos são inevitáveis é que se diz estar-se "condenado" a eles, por não haver perdão (correcção) possível nesta fase (manifestação).  Faço daqui um pequeno aceno aos "sete pecados mortais"...

Perdoar é essencial no sentido de evitar que quezílias condicionem a nossa Vontade num sentido negativo e livra-nos de muitas armadilhas mentais (e mente consciente é a Vontade). Uma mulher que cometa adultério e acredite que isso é mau sofre, mas somente por acreditar nisso. É da crença que resulta a angústia. Crença imiscuída no seu Inconsciente que irá por isso manifestar cenários de ansiedade. Perdoar-se a si própria elimina essa angústia (e a manifestação negativa externa). Mas no contexto do Inconsciente, assim que "impregnado", não há voltar atrás (não existe a noção de tempo), o que há no máximo é remanifestações de correcção e processos de aceitação do manifestado que não resultem em tanta angústia.

Devo dizer que pessoalmente sinto que há inconsistências graves neste episódio bíblico, disfarçado de perdão (que é sempre de louvar) e não foi com surpresa que constatei que este texto não existe de todo nas versão mais antigas da Bíblia (Codex Vaticanus e Codex Sinaiticus), sendo por isso de concluir que foi acrescentado à posteriori de forma algo desastrada para propagar a neurose do "adultério", controlar as fêmeas e firmar a sociedade patriarca chauvinista de inseguros sedentos de poder que existe até hoje. Talvez por isso Jesus seja descrito como "fazendo desenhos no chão", sendo, quem sabe, uma pista de que foi um "add on" mais ou menos ficcional...

Abreijos,
AMR
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